A vida e a biblioteca

A partir do momento de nosso primeiro choro, ao sair do quentinho da barriga da mamãe, nosso cérebro começa a armazenar tudo o que se passa conosco. É um órgão poderoso e não deixa escapar absolutamente nada.

Dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, instante a instante, tudo é armazenado nas infinitas prateleiras de nossa mente, a exemplo de uma grande biblioteca.

Tudo é organizado e distribuído.  O vocabulário da língua mãe vai sendo construído e novos vocabulários de outras línguas vão se incorporando.  Absolutamente nada é deletado e este acúmulo progressivo de informações vai permitindo intercâmbios mentais que proporcionam um aumento progressivo de nossa própria capacidade de raciocínio.

Arquivamos nossas vitórias e nossas derrotas em todos os esportes que praticamos. Registramos todas as lições escolares de todos os níveis e cada nova informação, ao ocupar seu espaço na nossa biblioteca mental, interage com as já residentes e vai formando informações novas e inéditas, nos capacitando a encarar com crescente confiança os desafios que nunca param de nos serem propostos pela vida.

Cada livro, cada jornal, cada panfleto, bula ou bilhete lido terá o poder de acrescentar novo colorido a cada novo horizonte descortinado diante de nossos olhos.  Esta permanente difusão intra mental de tantas e tantas informações mantém nosso cérebro em contínua atividade independentemente de estamos despertos ou em sono profundo.  Nós somos o nosso cérebro.  Tudo o mais que o cerca é apêndice, acessório, complemento, como periféricos de um computador.

O outro invariável lado desta moeda é que, também, em toda a biblioteca existe uma lata de lixo e, para que nossa comparação não fique capenga, nosso cérebro também contém sua lata de lixo, o local onde ficam armazenados nossos infortúnios, nossas dores, nossas falhas, nossas insanidades, nossos pecados.

É preciso aprender a frequentar qualquer biblioteca. É um local de silêncio, de meditação, de enriquecimento cultural, de crescimento intelectual.

Assim como não é lógico que se vá a uma biblioteca pesquisar em seu lixo, é necessário que façamos o mesmo com nosso similar mental.  Quanto menos mexermos em nosso lixo pessoal, mais rapidamente ele se esconderá nas profundezas neurais e deixará mais à mostra nossas prateleiras repletas de lembranças positivas, prazerosas, alegres e saudáveis permitindo que voltemos a sentir aquelas delícias passadas de nossa vivência e as gozemos tantas e quantas vezes nos sejam possíveis.

Por humanos que somos, cometemos nossos erros e nos arrependemos de tê-los cometido. Remoê-los, revivê-los, ressuscitá-los, cultuá-los é uma tremenda perda de tempo  e algo absolutamente destrutivo. Poderemos, no máximo, tomar consciência para não os repetirmos.  Vamos nos ocupar com as boas obras que ornamentam as prateleiras de nossa existência e tratar de preenchê-las cada vez mais com tomos e coleções que dignifiquem ainda mais tudo que já tenhamos feito de bom até aqui.

Sempre pode ser possível nos tornarmos melhores a cada dia, basta sabermos nos guiar pelos melhores exemplos.  Vamos homenagear nossas bibliotecas e, em silêncio respeitoso, olhar para o alto, para as prateleiras elevadas e ignorar o nível inferior e infecto do lixo.

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