68 anos – II

É mesmo uma idade mágica.

A gente detecta uma habilidade, até então desconhecida, de perceber formas de comunicação além das palavras.  Gestos e olhares adquirem status de novas vozes e enriquecem  profusamente frases e colocações verbais. Nesta idade adquire-se o aprendizado do comentado jeito de “ler nas entrelinhas”.

Depois de passar mais de seis décadas se comunicando com tantas diferentes personalidades das mais diferentes classes e níveis sociais e culturais, parece até natural que se aprenda alguma coisa adicional no corriqueiro modo de comunicação inter pessoal. Talvez até seja por isso que muitos idosos são vistos como bruxos, magos, adivinhos, feiticeiros.  Você conhece algum feiticeiro jovem fora das telas do cinema ou da TV?

É um tremendo privilégio poder começar a ser meio dono do seu próprio tempo e espaço. Como é saboroso fazer o próprio horário de atividade e/ou trabalho!

Que delícia poder dar um tempo no meio da produção de um texto para se sentar diante do teclado e tocar uma música que se acabou de lembrar…

Levantar no meio da madrugada para registrar uma idéia e passar o resto da noite trabalhando até o registro ficar com a sua cara e, só então voltar para a cama, independentemente da altura em que o sol esteja fazendo o seu passeio diário pela abóboda celeste.

Nesta idade, quando se afirma alguma coisa fora do contexto habitual, os ouvintes e interlocutores pensam mais de duas vezes antes de contestar simplesmente o aparente contra senso pois há um certo atestado de credibilidade intrinsecamente ligado à quantidade de cabelos brancos e rugas do pronunciante.

É por esta época que começamos a deixar de ser chamados de tios e passamos a ser, deliciosamente vovôs.

Os danados dos joelhos doem mais, o maldito nervo ciático vive dando o ar da graça, as crises de labirintite ficam mais assíduas mas, mesmo assim, o sabor da vida é extremamente melhor e ainda fica tudo mais espetacular quando se tem a sorte de compartilhar cada minuto com outra pessoa querida, carinhosa, generosa, cúmplice e, fundamentalmente, amorosa e compreensiva.

Finalmente devo dizer que estou adorando ter chegado até aqui e mais do que pronto para exercer novas atividades, realizar outra montanha de sonhos, estudar mais, continuar lendo compulsivamente, conhecer novos lugares e novas pessoas e ter a chance de viver, se possível, ainda mais intensamente o novo amor que o destino me presenteou nesta altura do campeonato.

Pronto! Que tal?  Sou ou não sou um camarada sortudo?

(Ou será que estou apenas colhendo o que andei plantando pela vida afora.)

Cezar, Cezar, deixa de ser pretensioso…  Hahahahahahahahahaha……………..

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