O primeiro ou o último?

Uma das mais encontradas referências no romancismo internacional é a decantada imortalidade do primeiro amor. Primeiro, então, assume o sinônimo de eterno, mágico, inesquecível, devastador, insubstituível e por aí vai. Acontece que a vida, para alguns mais (ou menos?) afortunados, oferece outros amores que permitem avaliar esta máxima por ângulos menos explorados pelos romancistas e arautos das observações comportamentais humanas.

Impossível negar o registro mental do primeiro amor que, geralmente, acontece em idades mais tenras, ainda sem o calejamento adquirido pela vivência, onde tudo é novidade e a vida ainda não apresentou toda a sua gama de dores e dificuldades tão frequentes na maioria das estórias e histórias conhecidas ou não mas daí a coloca-lo no pódio das maravilhas terrenas vai uma distância enorme.

Nesta fase inicial da jornada, a pureza de sentimentos atenua a análise e o julgamento dos fatos e atitudes, pessoais e alheias, e nos julgamos acima do bem e do mal, indestrutíveis, inexpugnáveis, inatingíveis. Só vemos pureza e sinceridade de sentimentos, honestidade, fidelidade, amizade, camaradagem. Tudo ainda é cor-de-rosa.

O tempo vai passando e mostrando sua cara verdadeira. Maldades se materializam e se manifestam. Decepções se amontoam, tristezas brotam por todos os lados e é preciso desenvolver habilidades especiais para seguir em frente e sobreviver em meio a uma realidade completamente diferente daquela dos sonhos juvenis.

E, então, num determinado momento, a natureza produz uma de suas maravilhas e oferece a alguns afortunados um presente inesperado. Um amor sem o apelo dos contos de fada, sem o colorido e o viço da juventude mas decorado e adornado com as cores da realidade, com o tempero da compreensão e da razão, com a maturidade consolidada e equilibrada, sem os rompantes descabidos mas com a leveza do saber esperar o momento certo para tudo. Um amor de complementação de sentimentos e atitudes, de companheirismo e camaradagem, de preenchimento do tempo perdido, de constante e permanente troca de gentilizas, de valorização de detalhes antes despercebidos.

Por estas e tantas outras razões, acabamos concluindo, com ou sem unanimidade, que, dentre todos os amores, o realmente mais valioso é o último. Aquele que se vive com mais sapiência, com a sabedoria de escolher os melhores caminhos, com a sensibilidade testada e depurada com as experiências do passado e com a valorização definitiva do seu verdadeiro significado, sem máscaras, sem subterfúgios, sem truques.

Os velhos sabiam das coisas e não é atoa que sempre disseram que: “Os últimos serão os primeiros.”

Aqueles danadinhos……………

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