O ser, o envelhecente e o velho.

Como tudo na vida, ficar velho tem dois lados antagônicos a serem observados: o bom e o ruim. O bom é a construção contínua e sistemática do acervo mental exclusivo e intocável que amealhamos ao longo da caminhada. Aquela parte que nos deixa na lista dos “experientes”.  Aquela que nos coloca na posição de sênior apenas por nossa aparência física, pelos cabelos brancos quando ainda existem e pelos passos trôpegos e incertos quando ainda caminhamos. Aquela que nos permitia “furar” as filas mas que já não é mais privilégio pelo fato de que nosso número está cada vez maior e nossas filas cada vez mais longas. Aquela que faz com que desconhecidos se dirijam a nós com o indefectível: “-Por aqui, vovô”.  Aquela que faz com que tenhamos poucas surpresas por já ter tido a oportunidade de passar pelas mais diversas situações e nos permite permanecer mais serenos diante dos obstáculos. Aquela que nos desobriga de certos comportamentos exigidos aos mais novos como obediência e subserviência.

O lado ruim da velhice é a perda gradual das habilidades, das funções orgânicas, da resistência física, da memória, da agilidade física e mental, da força, da faísca vital. Aquela que troca nosso sofá pela cadeira de rodas. Aquela que faz da bengala nossa terceira perna. Aquela que faz nossa lista de compras mensais na farmácia ser maior do que a do supermercado. Aquela que vai nos afastando progressivamente de nossas atividades lúdicas, esportivas e sociais. Aquela que vai retirando de circulação amigos, inimigos quando existem, parentes bons e maus,  fãs e desafetos de maneira a nos conduzir  inexoravelmente ao temido e aterrorizador estado de solidão. Aquela que vai substituindo, por força da sabedoria da mãe natureza, as atividades físicas por atividades mentais. Aquela que nos torna  mais pensativos e mais observadores. Mais ouvintes e menos oradores. Mais céticos e mais críticos.

Entretanto, regras são feitas para serem seguidas ou quebradas e , evidentemente, os resultados finais são os mais diferentes possíveis pois, enquanto alguns de nós ficam sábios, serenos e exemplares, outros ficam ranzinzas, duros e teimosos.

Observar a natureza e perceber os detalhes de sua complexidade é algo magnífico e infinito.  Quando achamos que encontramos alguma resposta satisfatória para algum de seus comportamentos, algo de inusitado acontece e destrói  nossa teoria nos fazendo voltar ao princípio. Poucas leis foram identificadas por sábios, matemáticos e pensadores mas os mistérios existentes são cada vez maiores e mais desafiadores.  Os por ques são mais numerosos do que os porquês. Um verdadeiro emaranhado de vários novelos de diferentes linhas de várias espessuras e diferentes materiais das mais diferentes cores.

Os velhos vão se renovando em cena , dando espaços para  os envelhecentes da vez e a fila das dúvidas jamais para de crescer.

Afinal de contas, envelhecer é o quê ?

Para mim não é nada além de mais uma fase inexorável da existência e motivo de agradecimento daqueles que conseguiram viver esta experiência.

Então qual foi o objetivo deste artigo?

Ora bolas. Nenhum. Fui escrevendo sem objetivos, sem preocupações, sem critérios mas se você leu até o fim já me deu motivo para ficar feliz.

Muito obrigado.

2 comentários em “O ser, o envelhecente e o velho.”

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