Saudade não mata. Mata?

Amigos leitores e seguidores fiéis estou preocupado, aliás, muitíssimo preocupado.

Meu primeiro mês de aulas como universitário foi o de março de 1964 e todos sabemos o que aconteceu no final daquele mês. Até hoje carrego a marca de uma estocada violenta que recebi no estômago, dada por um despreparado soldado com sua metralhadora portátil apenas para me punir pelo crime de estar na rua após poucos minutos do encerramento do toque de recolher e voltando acelerado para casa e isso é apenas o começo da conversa.

Minha preocupação é que o clima reinante no país naquela ocasião era muito menos tenso do que o que vivemos agora e, para mim, o mau cheiro está no ar. Nunca se viu neste país tanta desordem, tanta corrupção, tanto enriquecimento ilícito, tanto cinismo e tanta impunidade.

Imaginem o tamanho da riqueza deste país que insiste em permanecer de pé apesar de tanta sangria que lhe fazem em suas finanças. Imaginem o que poderíamos ser se este mega volume de dinheiro estivesse sendo, minimamente usado para o que foi produzido, ou seja, para o bem estar do seu povo e de suas instituições. O uso honesto desta dinheirama toda nos colocaria no pódio das nações mais poderosas e influentes do mundo mas vejamos bem onde fomos parar. Na lanterna, na rabeira, no fim da fila.

O mundo todo fica indignado em ver proliferar e se multiplicar os casos de roubos espetaculares e a nossa completa falta de reação. Todos sabemos, sem ingenuidade, que a corrupção grassa pelo mundo e existe em todos os países deste nosso maltratado planetinha mas nestas nossas proporções jamais se viu em tempo algum e lugar nenhum. As pessoas que escolhemos para conduzir nossos destinos demonstram estar empenhados apenas com seus próprios destinos. Multiplicam-se as quadrilhas e aumentam geometricamente as quantidades de bilhões a cada novo caso e surgem diversos diariamente. Faltam palavras no dicionário para batizar as operações de investigação das fraudes e, mesmo assim, nossas autoridades nunca sabem de nada. Santa ignorância, santa inocência, santa hipocrisia, santa cara-de-pau.

Apesar de todos os especialistas consultados serem unânimes em manifestar a vulnerabilidade de nosso sistema eletrônico de votação, ele continua sendo utilizado por aqui, legalizando este jogo injusto e indecente de cartas marcadas. Notaram a calma da candidata à reeleição às vésperas do desfecho final em relação ao candidato oposicionista? Notaram que no primeiro turno não se esperou pela apuração no Acre para se noticiar os resultados parciais? Notaram que países mais desenvolvidos não usam a votação eletrônica  por sua óbvia manipulabilidade? Mas não se assustem pois isto não está acontecendo agora, acontece desde a inauguração deste modelo que permite ao poderoso da vez escolher seu sucessor e tripudiar sobre nossa credulidade infantil. Até quando?

Tenho saudade do valor que havia em alguém ser patriota, do hasteamento da bandeira e o canto do hino nacional antes do começo de cada dia de aula, do orgulho pela cidadania, da postura altiva e respeitada de nossos militares, do respeito pela autoridade, da naturalidade em ser honesto, do repúdio pelas injustiças. Onde foram parar nossos valores?

Ainda bem que saudade não mata.  Ou mata?

 

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