Velhice

É mesmo verdade que cada um valoriza mais aquilo que é de seu interesse. Óbvio. E tomo por mim ao me auto avaliar depois dos 70. Até uns dias atrás eu achava, como a maioria, que um setentão era um baita velhote, verdadeiro pé-na-cova, fim-de-linha, múmia encarquilhada etc. Como eu não me sinto assim tão acabado, muito pelo contrário, comecei a dar tratos à bola(o linguajar não entra na avaliação) e encarei uma necessidade de dar um toque naqueles que ainda estão a caminho desta idade maravilhosa.

Saibam que a velhice não traz a sensação de sossego e desesperança. É, sim, algo como estar na janela de belo e confortável trem, correndo por paisagens maravilhosas mas velhas conhecidas. Sabemos, percebemos, sentimos, enxergamos a aproximação de uma curva, de uma subida mais ou menos íngreme, de uma tempestade ou do fim dela, de um cruzamento, uma lagoa, uma plantação, um vilarejo, uma cidade.

Os ainda jovens, muitas vezes, encaram os vovozinhos como criaturas ultrapassadas, despreparadas para os modernismos, incômodas, ranzinzas, chatos e redundantes. Muitos de nós somos mesmo tudo isso mas apenas uma pequena minoria que, por puro azar, chegou nesta fase cheio de doenças e mazelas. Nossa enorme maioria, prestem atenção, usa celular, navega pelas redes sociais, Faz atividade física regularmente, está antenado com tudo e sempre muitíssimo bem informado.

Algum tempo atrás presenciei uma jovenzinha de uns trinta e poucos anos colocando-se num tremendo pedestal e assumindo uma pretensa sabedoria ao tentar aplicar uma reprimenda em sua mãe, por algo que a jovenzinha reprovava. Coitadinha… Quanta bobagem falou. Parecia um coroinha querendo ensinar um padre a rezar missa. A experiente e paciente matriarca apenas sorria e, com certeza, pensava na surpresa que a outra iria ter quando o tempo lhe ensinasse o tanto e quanto estava errada. Eu sei que cada um de vocês que me leem agora conhece muitos casos parecidos. Não dá mesmo pena? Pois é…

O que só agora começo a perceber é que, ao chegar nesta altura da estrada da vida, nós já passamos por tantas e tantas experiências que conseguimos vislumbrar, por pura similaridade,  muitas consequências, simplesmente ao conhecer seus fatos de origem. Ao olharmos o início de um caminho, ocasionalmente, enxergamos o terreno por onde ele está se estendendo e a mais provável possibilidade sobre onde vai acabar. Não tem nada a ver com adivinhação, apenas uma simples sensação de dejà vu.

Gostaria muito de ter conseguido alcançar bem antes esta constatação. Teria tratado muito melhor os meus anciãos, teria aprendido muito mais com eles e teria chegado muito mais sábio onde estou agora mas, quem sabe, não esteja tendo a oportunidade de ajudar alguém a ser mais esperto e mais atento do que eu?

Se estou na terceira idade, quero logo chegar na quarta, quinta e nas outras que possam estar me esperando. Venham todos felizes e serenos que posso garantir que vão gostar. Apenas comecem desde já a pavimentar este caminho através de hábitos saudáveis e mais responsabilidade com o futuro. Até já..

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