Causos, casos e acasos – V – Fazer caridade com o bolso alheio

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Alguém conhece sacrifício mais moderado e mequetrefe do que aquele de pagar uma promessa utilizando o esforço de outra pessoa? No passado, até que isso era comum, como foi o caso de um senhor que conheci que, para pagar uma promessa feita pela mãe, usou roupas de menina até os dez anos de idade. Pode?

Pela vida afora, vai-se encontrando, vez por outra, situações bizarras desta natureza, principalmente no ambiente empresarial. Soube de um caso de um camarada que, não só conseguiu convencer um colega a substituí-lo em um plantão extra, como obter os louros junto ao chefe para si próprio.

O resultado final foi a demissão do “bobalhão” de boa fé e a promoção do “esperto”. Até quando vamos continuar impassíveis assistindo o sucesso da desonestidade e da cultura descabida do “jeitinho”? Ser beneficiado por algo que não se realizou é o supra sumo do desrespeito , da falta de decência, da falta de ética, além de poder ser considerado o ápice do descaramento.

Quem se vale deste tipo de artimanha para obter sucesso, a qualquer momento acabará por ser desmascarado, até mesmo por um simples ato de justiça divina. Infeliz de quem nunca conseguiu sentir o prazer de ser reconhecido por um mérito legítimo.

Ah, como o sono fica mais leve, como os sons ficam mais harmoniosos, como as cores da vida ficam mais vivas e brilhantes. Sinceramente, será que aquela tal mãe do início do nosso papo mereceu a graça recebida? Será que, alguma vez na vida tomou consciência do mal que causou à estrutura psicológica do filho?

O valor da caridade não está no tamanho da doação feita, mas ao que ela representou de esforço sincero do doador para realizá-la. O que terá mais valor aos olhos de Deus: os milhões de dólares doados por algum mega-milionário ou a única moedinha oferecida por um faminto? O que terá causado maior esforço, maior sacrifício, maior desprendimento?

Caridade é importante, desde que baseada na verdade. Verdade, ética, vergonha, honestidade são termos que precisam, urgentemente, deixar de ser simples vocábulos para se tornarem atitudes naturais na vida de todos nós. Como será bom viver.

Imagem: Francisco Braila

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