Será mesmo que o hábito faz o monge?

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Incrível como a garotada que chega aos bancos universitários, em grande número, não se dá conta de quão próximo está de uma mudança de posicionamento social. Num piscar de olhos estará terminando o curso e deixando de ser apenas mais um estudante para ser visto como um profissional habilitado para a profissão que escolheu.

Uma de minhas lutas como membro do corpo docente de uma dessas escolas é procurar conscientizar, desde os calouros até os veteranos, de todos os períodos, a aproveitar o ambiente universitário para treinar atitudes profissionais. Que melhor oportunidade terá de ir se acostumando a apresentar trabalhos cada vez mais limpos, organizados e, tecnicamente corretos?

Quando alguns desatentos insistem em fazer provas e apresentar trabalhos a lápis e em papel arrancado do caderno, questiono se fariam isto depois de formados ao apresentar um relatório ao patrão, ou ao chefe. Precisam, desde o mais cedo possível, aprender a valorizar o produto que apresentam, fazendo-o de maneira, cada vez mais profissional possível.

Como qualquer avaliação deve ser encarada como um documento dos mais importantes do período escolar, pergunto se alguns deles conhecem algum banco que aceite cheques assinados a lápis, ou se já viram algum contrato assinado a lápis. Os hábitos trazidos dos cursos preparatórios à faculdade são mesmo difíceis de serem arraigados dos hábitos e costumes de muitos. Afinal, quem está nos níveis inferiores do ensino, se prepara para continuar estudante enquanto que quem chegou num curso superior se prepara para deixar de ser estudante.

Felizes daqueles que se apercebem do valor destas observações e se esforçam para se habituarem a assumir atitudes mais sérias, mais éticas, mais responsáveis e muitas vezes mais produtivas do que tentar esticar indefinidamente a postura infantil ou juvenil dos períodos escolares anteriores.

E as roupas, então? Sempre que posso, me aproximo de algum garotão que insiste em vir para a aula de chinelo de dedo, bermuda e camiseta cavada e, discreta e isoladamente lhe pergunto se ele contrataria um profissional que estivesse trajado daquela maneira no seu ambiente de trabalho.

— Mas professor, está fazendo muito calor!

— Ora, meu amiguinho, está fazendo o mesmo calor para todos os seus colegas que estão vindo à aula trajados de maneira mais socialmente aceitável. Enquanto você perde o seu tempo, eles já começam a criar um diferencial e serão recompensados na hora de se submeterem à apreciação do mercado de trabalho.

Se o hábito é, ou não, capaz de fazer o monge eu não me arrisco a afirmar, mas que muitos garotos e meninas desperdiçam excelente oportunidade de ir se acostumando com os hábitos e atitudes que irão encontrar nos seus respectivos ambientes profissionais, ah, disso não tenho nenhuma dúvida.

É muito mais fácil agir com naturalidade do que viver forçando a natureza e o período acadêmico é uma oportunidade magnífica para transformar boas maneiras em hábitos que serão valiosíssimos no exercício de qualquer profissão.

Foto: Banklink

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